Universos particulares
Da redação de O Popular
30/07/2012
Na última semana, no complicado trânsito de Goiânia, calhou de eu
encontrar dois motoristas que tiveram uma atitude idêntica. Ambos pararam seus
carros no meio da rua para... passar uma mensagem pelo celular! Eles
simplesmente se esqueceram – ou talvez tenham ignorado de propósito – que
existia um mundo em volta, que outras pessoas também estavam por ali
transitando, que vivem em coletividade. Essas pessoas têm seus universos
particulares. São Pequenos Príncipes habitando planetas só deles, exclusivos. O
que vejo no cotidiano é um aumento do número de gente assim, o que pode ser
comprovado nas mais cotidianas atitudes, nos comportamentos mais triviais, nos
desrespeitos mais corriqueiros. Ali está o embrião de boa parte dos males que
nos assolam, que passam pela postura crônica de desonestidade, pela exclusão de
regras básicas de convivência, pelo egoísmo exacerbado
O sujeito que interrompe uma via pública para tratar de assunto
particular é o mesmo que fura a fila do supermercado porque está com pressa,
que não recolhe seu lixo na praça de alimentação do shopping, que joga lata de
cerveja na rua, que estaciona seu carro em lugar proibido ou em vaga para
deficiente, que despeja o entulho de sua casa no lote baldio mais próximo. Ele
é o cara que você vê dando mau exemplo para os filhos, que faz barulho altas
horas da noite em seu apartamento sem se preocupar com o vizinho que mora
embaixo, que grita com outros para ouvir o som de sua voz. É o indivíduo que,
se chegar a um cargo de importância, vai tirar vantagem do poder adquirido, vai
querer dar “um pra cervejinha” para evitar a multa de trânsito.
Parece exagero, mas não é. Esses pequenos desvios de conduta nutrem as
grandes roubalheiras, os golpes sofisticados, a ausência de escrúpulos. E isso
acontece porque a dinâmica é exatamente a mesma, mesmo que os efeitos e os
propósitos variem de dimensão. O filho que vê o pai ou a mãe desrespeitar
solenemente as regras, dar de ombros aos mínimos gestos de educação, vai fazer
exatamente o mesmo, quando não pior. Ele é o garoto que passa cerol na pipa sem
pensar um instante sequer que aquilo pode ser perigoso para outra pessoa, que
toma o lanche do coleguinha mais franzino na escola, que quebra algum bem
público apenas por diversão. Quando cresce, torna-se o jovem que promove pegas,
que bebe e vai dirigir e matar ao volante, que procura brigas em boates e
festas. Isso tudo acontece porque ele aprendeu que não tem que se incomodar com
quem sequer conhece.
Vivemos em um mundo
com cada vez mais universos particulares. Quem sabe isso explique nosso
trânsito tão ruim, nossos jovens tão ameaçadores, a violência crescente, o meio
ambiente mais e mais degradado. Talvez nem adiante escrever este texto. Vivendo
em seus mundinhos exclusivos, possivelmente essas pessoas não se interessam por
ideias que não sejam as suas...
Rogério Borges
rogerio.borges@ojc.com.br