sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Quem é este chato?

O chato é aquele cara que pensa que não o é. E se ser chato for o único defeito, esse ser não é de todo mal. Mas, se mau ele for, a coisa mudou! Do contrário, às vezes, pode até ser divertido. Quem não ri das chatices de um chato qualquer? Claro, desde que o chateado não seja você. Mas o chato em questão, qualquer chato não é.
O cara é tão chato que devia ser coroado o rei dos chatos! Sim, porque chato pretensioso é o que pode haver de pior. Imaginem um tão pretensioso que almeje a Presidência. Não a do clube dos chatos, pois se fosse, merecido seria. O cara quer a faixa verde-amarela, e acha que pode. Pode? Convenhamos, chatice tamanha merece atenção.
Afinal, esse chato foi eleito o mais chato de todos e justamente por um delator. Isso merece louvor! Delator é, historicamente, um dos piores tipos de chato: o desprezível. Finalizo então: vai, criatura ávida de propina! Assuma, enfim, sua Presidência! Não por eleição, isso jamais, mas por aclamação! Entrego-lhe, pois, o título que não mais me pertence: “O cara mais chato do Brasil”.

Ricardo Ferreira

Ipameri – GO

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

O ciclo da violência e o olho no futuro

Observa-se cada vez mais a intensificação da degradação moral do ser humano. Essa degeneração dos valores reflete diretamente nas relações sociais. Em visitação a todos os lugares de convivência humana, nota-se a presença exacerbada do individualismo e do egocentrismo, com a mira apontada para o auferimento de vantagem, a todo custo e a qualquer tanto.
Com a perda do respeito à pessoa humana, desde os menores atos, perde-se toda a sociedade, que se debate em meio à violência, corrupção e os mais variados desvios éticos, prevalecendo a mentira, a dissimulação, a avareza, a indiferença e a insensibilidade. É o que se vê hoje em dia, essa é a verdade e a realidade, sem eira nem beira!
Se há vantagem para o bolso, ou para ser atendido na frente do outro, ou para beneficiar o amigo ou o grupo ao qual se pertence, pode-se tudo, permite-se tudo, dá-se um jeito em tudo.
Assim os grupos e as preferências se formam, depois de um individualismo adoecido, contaminado pela falta de aceitação do que é diferente, o que, em outros termos, chama-se desamor, que, por sua vez, deflagra a segregação, a falta de fraternidade, a violência travestida e manifestada de múltiplas formas. Então, o ciclo se fecha, os fatos se repetem, os anos passam e a vida continua.
Certa vez, Rui Barbosa, o autor da Oração aos Moços, vaticinou: “de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
Cora Coralina, por sua vez, no poema intitulado Aos Moços, sentenciou: “Creio numa força imanente que vai ligando a família humana numa corrente luminosa da fraternidade universal. Creio na solidariedade humana. Creio na superação dos erros e angústias do presente. Acredito nos moços. Exalto sua confiança, generosidade e idealismo. Creio nos milagres da ciência e na descoberta de uma profilaxia futura dos erros e violências do presente. Aprendi que mais vale lutar do que recolher dinheiro fácil. Antes acreditar do que duvidar”.
Há quem acredita, afinal, que tudo isso ainda tem jeito. Resta acreditar também, e esperar o futuro. Afinal das(de) contas, é preciso dar um jeito!


Frederico Luis Domingues Bitencourt (12/01/2016) é advogado.

No salão do Titanic (Luta por Direitos)

Rudolf Von Ihering foi um alemão pauleira, mais um deles. Hoje quando se cita ou se faz referência a ele, soa arcaico, o que é uma tremenda injustiça, pois ele é muito atual. O que define uma ciência, dentre outros critérios, é a estabilidade dos seus conceitos. Ihering deu sua contribuição para o Direito em um grande tratado, curto, mas conceitualmente grandioso.
Impregnado de premissas jurídicas inarredáveis, seja na Alemanha do seu tempo (Weimar - virada do século 19), seja no Brasil de hoje, seja em Marte. Um livreto maravilhoso intitulado A Luta pelo Direito.
A ideia central é logo enunciada no introito: "A paz é o fim que o Direito tem em vista, a luta é o meio de que se serve para o conseguir. Por muito tempo pois que o direito ainda esteja ameaçado pelos ataques da injustiça - e assim será enquanto o mundo for mundo - nunca ele poderá subtrair-se à violência da luta."
Desdobrando seu enunciado, ele ensina também que uma nação que se cala à violação de um direito - um sequer - sanciona de uma vez sua condenação a não mais existir como é. O povo que assiste à perda de um direito apenas, e se cala, deixando impune o agressor, em breve verá usurpado os demais, até que deixe de existir como Estado. E ele conclui: "Tal povo não merece melhor sorte."
Deveríamos ir à luta, conforme ensinou Ihering, para resgatar nossos direitos de cidadania. Mas não o fazemos. Nossa nação foi facilmente construída, nossos direitos, especialmente nossos bens, foram docilmente conquistados e por isso deles cuidamos como se não fossem parte de nós. Olvidamos ou não percebemos que o direito - e o bem que ele nos assegura - é extensão de nossas vidas, de nossa personalidade. Fossem conquistados com nosso próprio sangue, pela luta, talvez não nos omitíssemos.
Melhor dito na bela prosa científica de Ihering: "Como uma mãe que deitou seu filho ao mundo, no risco da própria vida em um parto, não deixará que o tome, também um povo não deixará jamais roubar os direitos e as instituições que conquistou à custa do próprio sangue." Mas desventuradamente não somos assim. Cada vez mais, nada melhor nos define do que a indolência atribuída aos nossos índios.
Digo agora eu - não o Ihering - que neste momento estamos dançando valsa no salão do Titanic. Talvez ainda seja possível salvar o barco, mas o esforço exigível, conforme evolui nosso drama, torna-se maior. E não demonstramos aptidão nenhuma para a luta.
E nós, bebendo vinho e dançando valsa...


 Eugênio José Cesário Rosa (10/01/2016) é desembargador do TRT de Goiás, e é doutorando em direito pela Universidade de Lisboa.